Nascemos chorando, pela saída
do útero, pela luz revelada, por ganharmos a vida. Em nossos primeiros anos,
chorar era a melhor forma de revelar e conhecer nossas emoções. Mas envelhecemos
valorizando somente o riso na busca pela felicidade, sem nos darmos conta de como
o choro é essencial. Por dor e tristeza, alegria e beleza.
Como chuva torrencial de verão, que chega para lavar
a alma e aliviar o peito, chorar pode retirar de nossos ombros um peso injusto que
carregamos sem saber o porquê. Feito milagres ou conquistas do tempo, pensamentos
clareiam espessas nuvens de sentimentos e o choro – como água redentora do céu
– termina por dissipá-las. Assim escoam-se culpas, mágoas e desilusões.
Por um sofrimento, um revés ou um enternecimento
de vivências e lembranças, chorar não nos faz fracos. Ao contrário, pode nos
fortalecer ao nos tornar íntimos de nós, nossos melhores acalentadores. Mesmo solitário,
sobre o travesseiro ou sob o chuveiro, o choro nos deixa aceitar o que passou e
entender o que ficou, para aguardarmos o que virá com o espírito desanuviado.
Choros são mares tranquilos ou revoltos em que navegamos.
Às vezes podem vir em tsunamis avassaladores, transbordando em olhos já cegos por
desespero ou desesperança. Nesse caso, é preciso ter cuidado, pois somente pedir
resgate ou agarrar-se a algo sólido fará emergir, voltar à terra firme e sobreviver
ao naufrágio.
Penso que ficamos mais propensos às lágrimas
comovidas na maturidade. Os anos parecem nos fragilizar diante da finitude da
vida, mas no fundo alargam a nossa sensibilidade e o nosso sexto sentido em
relação ao que verdadeiramente nos toca e nos choca no mundo. Talvez porque
estejamos mais perto de Deus.
Sempre fui ´chorona`, apesar de adorar dar boas
gargalhadas. Jovem, chorei por medos, decepções e tolas inseguranças. Depois passaram
a ser as perdas, os hormônios ou os sentimentos caros a desaguar. Várias lágrimas
já brotaram enquanto eu escrevia (ironicamente não esta crônica). Foram gotas
serenas, emocionadas, como as de esperados reencontros.
Choramos por amor, solidão, conquistas, perdas... Choramos com os nascimentos dos filhos, com as mortes de pessoas queridas, nas chegadas e partidas. Se os olhos brilham úmidos, por que travar a emoção e deixá-los secos, turvos? O choro é a expressão da dor de viver, mas também de seu mistério e encanto. Como o orvalho nas flores, os pingos de chuva em janelas ou a tempestade de raios que assusta e depois refresca, limpando o céu e trazendo de surpresa um lindo arco-íris.
Texto e fotos: Nadja Bereicoa
Demasiado belo amei.
ResponderExcluirObrigada, Maria Rosa, por me visitar e deixar seu comentário!
Excluir