quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Quando a gente se sabota



Sabotagem não é apenas estratégia de inimigo para prejudicar quem detesta. Longe de planos maquiavélicos, ela pode partir de nós mesmos e ir minando nossa felicidade com atitudes simples e repetitivas, de forma inconsciente ou não.  Começa se apoderando de pequenos momentos - prazeres ou responsabilidades - até invadir a vida inteira. 

Prorrogarmos etapas e relacionamentos vencidos ou a solução de problemas e incômodos, postergando o que podemos fazer hoje para o dia seguinte e depois para o outro e outro. Vivemos, procurando sempre justificativas, uma sucessão de pendências e adiamentos. Adiamos, principalmente, o enfrentamento do trabalho que dá ser feliz. 

Nos sabotamos ao nos recusarmos a enxergar o que está diante de nosso nariz, sobre a vida, os outros e nós. Custamos a entender que a felicidade, tirando momentos afortunados, quase sempre não vem de graça. Vem de querer.  E a gente sabota o nosso querer quando não enfrenta tudo o que é preciso para ter ou fazer o que deseja, seja para não desagradar alguém ou por preguiça ou medo. 

Ah, o medo... Que concorrência desleal!  Ele é nosso maior sabotador, simbolizando um complexo de inferioridade. Enquanto o cultivarmos diante do que está por vir, ele esmagará a nossa força interior, por maior que ela seja. Precisamos parar de ter medo da felicidade, de que algo ruim aconteça, de saber a verdade, do que os outros vão pensar...

Até respeitarmos o que nos faz bem, nos importamos em demasia com os outros e nos violentamos. Permitimos que pessoas nocivas invadam o nosso espaço ou suguem nossa energia com seus problemas, conselhos ou comentários negativos. Dizemos sim querendo dizer não e vice-versa.  Fazemos o que não queremos e deixamos de fazer o que queremos, engolindo a frustração. 

Sabotamos nossos sonhos deixando-os no plano da irrealidade. Não nos atrevemos a colocá-los em prática para evitar decepções, especulando o pior. Assim nunca poderão dizer que deram errado... Ou então iniciamos novas empreitadas, mas desistimos nas primeiras dificuldades. Como se não fôssemos capazes de alcançar o sucesso ou fortes o suficiente para resistir ao fracasso. 

Muitos fogem de seus amores. Outros ignoram as suas vocações. Inúmeros se atrasam para compromissos. A autossabotagem  acontece de várias formas, mas sua origem tem sempre a ver com baixa autoestima e falta de autoconfiança e amor-próprio. Por isso, nos acostumamos a inventar pretextos, arrumar complicações, anestesiar dores e mergulhar em ilusões. 

Somos os responsáveis por sair das armadilhas que criamos, por abrir correntes a que nos prendemos. Um bom começo é enfrentar nossos medos e deixar de cultivar pensamentos e comportamentos tóxicos. Quando eles vierem, temos logo que substituí-los pelos que nos motivem. Ainda que isso assuste e canse no início, ainda que haja recaídas, a confiança e a coragem nos fortalecerão até conseguirmos. Quanto mais deixarmos de nos proteger da infelicidade, mais nos aproximaremos da felicidade. 

 

Imagem: Pixabay

Texto: Nadja Bereicoa