quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Precisamos dar tempo ao tempo


O tempo é um grande e sábio amigo, acredite. Tem fama de cruel e implacável, mas o que apenas faz é passar serenamente e nos transformar, se deixarmos para melhor. Com o tempo, quase tudo se aquieta, se resolve, se direciona. Se o tratarmos como um aliado, ele nos aponta as respostas para dilemas e dificuldades.

Se o tempo passa rápido, depende de nós. Às vezes corremos contra o relógio para dar conta do que necessitamos ou queremos, perdendo o foco do prioritário. Quem nunca pensou como o dia poderia ter trinta horas, mal aproveitando seus preciosos minutos?! No fundo, precisamos é desacelerar e dar tempo ao tempo - para que sementes brotem, ressentimentos cessem, feridas curem, ciclos se fechem e portas se abram.

Somente com o tempo a gente passa a respeitar a natureza dos sentimentos e dos dias. Há tempo de se conectar e de se desligar, de sorrir e de chorar, de se esconder ou se mostrar, de agir ou de esperar. Esperar - bem diferente de se acomodar – nos ensina a ter paciência. Disso vem a esperança, essencial para aguardarmos novos tempos.   

Por mais que haja descrença, precisamos lembrar que do breu da noite virá a claridade do dia. Cada amanhecer, faça sol ou chuva, pode nos despertar uma ideia, uma surpresa, um olhar. O milagre do tempo é que ele revolve tudo em nós. No exato momento em que vira passado, o presente dá lugar ao futuro. Somos essa mágica mistura dos tempos.

Mestre inteligente e irônico é o tempo. Nos prega peças e nos dá lições e recompensas, que ficam claras em histórias de vida que se repetem, se invertem, se apequenam, se agigantam ou até recomeçam de onde não deviam ter parado.  Pelos dias, meses e anos o tempo carrega nossas ações, palavras e pensamentos, trazendo-os de volta feito bumerangues nos ventos. 

O tempo leva o viço, mas pode trazer uma beleza maior: a consciência de sermos melhores do que antes. Ele mostra o que nos cai bem – aparência, companhias, atitudes, situações...- e nos afasta do que faz mal. Por experiência e intuição, a gente aprende a não perder tempo com o que não vale a pena, não nos merece. A gente aprende a ter sabedoria para viver e a acertar os ponteiros do tempo.



Texto: Nadja Bereicoa
Imagem: Pixabay




segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

De presente, a felicidade



Em clima de harmonia, paz e alegria, celebrei o último Natal em minha casa pela primeira vez, ao lado de marido, filhos, irmãos, cunhados e sobrinhos.  O aniversário de Cristo foi momento de reflexão, de celebrar o amor e sentimentos dele derivados, como tolerância, união, fraternidade e perdão. Optei por mais simbolismos e menos consumismo e ofereci a todos irreverentes ´kits de felicidade`, junto a um texto que escrevi. Não eram fórmulas, que não existem, mas metáforas.

De modo literal ou literário, oito itens renderam esta crônica natalina: um saco, um fitilho, um bombom, um bloco para anotações, um lápis, uma borracha, um elástico e um chá de camomila. Comecemos pelo bombom, porque doçura é imprescindível na vida e chocolate - já está cientificamente provado - traz alegria. Mesmo que você tenha restrições ao açúcar na sua dieta, pode acrescentá-lo ao seu dia com gentileza, solidariedade, ternura e sorrisos. O mundo, tão amargo, lhe agradecerá.

Quanto ao lápis e ao bloco, minha sugestão é para que você escreva, ainda que para si, sobre o que tem vivido, observado, sofrido. Registre memórias e sentimentos. É uma terapia, perceba aos poucos. Se preferir, deixe fluir uma poesia ou enumere tudo de bom que lhe aconteceu e liste sonhos, ideias e metas, lembrando que muitos não se concretizarão por algum motivo. Foi assim em 2016?! Não se culpe! Culpas são pesos injustos.

Nada melhor do que um ano com páginas em branco para criar ou reescrever capítulos e histórias, com cenários e personagens inéditos, mas nas páginas já preenchidas podemos usar a borracha do perdão para apagar erros do passado, nossos e alheios. Claro que alguns, com tinta indelével, precisam continuar ali, com suas fortes marcas a nos ensinar.  Outros, porém, desaparecerão e uns deixarão fracos vestígios. O importante é apagarmos os ressentimentos. A gente não merece sentir de novo, ressentir, o que doeu.

Momentos ruins servem para ser enfrentados e nos proporcionar crescimento espiritual. O elástico, que se estica, se flexibiliza e volta ao seu estado normal, representa a capacidade de superação, adaptação e resiliência que devemos adquirir diante de problemas, frustrações e divergências que se apresentam. A elasticidade exemplifica também a nossa tolerância com os outros, ainda que discordemos veementemente de seus pontos de vista.

Os seres humanos são diferentes, imperfeitos e surpreendentes, para o bem e o mal, o que torna a vida tão fantástica quanto difícil. Conflitos e crises sempre existirão, mas não serão resolvidos se guerrearmos, e sim se buscarmos o entendimento. Por isso, na hora de ânimos exaltados, pense bem antes de agir para evitar arrependimentos. Respire fundo, conte até dez, beba um chá de camomila e deixe a raiva passar.

Um saco transparente e um fitilho dourado também têm significados poéticos.  A embalagem é onde armazenamos com carinho o que de melhor podemos oferecer aos outros, nossos mais caros presentes. O longo laço representa nosso bem mais valioso: os nossos afetos. Família e amigos ajudaram a construir nossas histórias e lembranças. Eles valem ouro e são para a vida toda.

Meu kit foi uma brincadeira para inspirar. Não existem fórmulas de felicidade, tão cíclica quanto necessidades e desejos que surgem durante a vida. Criamos receitas, que às vezes desandam, não dão certo e nos fazem usar novos ingredientes. O certo é que alguns, como o amor, são indispensáveis. Não podem faltar, feito farinha e fermento em bolo. Precisamos, acima de tudo, de vontade genuína para testar, tentar, errar e acertar, para nos fazer felizes e aos outros também. Felicidade é constante aprendizado e nosso melhor presente.



Texto: Nadja Bereicoa

Imagens: Pixabay