sábado, 7 de novembro de 2015

Mudança, sinônimo de vida


Sair da zona de conforto e mudar, mesmo que para melhor, não é fácil. Implica em arriscar, reconstruir e perder, ainda que algo desgastado. Por acomodação ou medo, fugimos das mudanças que se anunciam em nossos ouvidos, como murmúrios do destino ou de Deus. Se ouvirmos a nossa intuição, às vezes um minuto pode ser um sim a conquistas ou recomeços. O sim para mudanças.

Mudança traz renovação e amadurecimento. É sinônimo de vida, mas é a ideia da finitude que nos impulsiona para ela. À medida que temos menos tempo, precisamos saber aproveitá-lo para sermos felizes, mudando e nos preparando para a maior transformação que virá, espiritual. Sempre podemos mudar. De aparência, comportamento, casa, país... Novos hábitos, experiências, opiniões e amores surgem com as mudanças.

Aos trinta anos, vivi meu primeiro longo ciclo de mudanças.  Perdi minha irmã mais velha, morei sozinha, terminei um relacionamento, me apaixonei de novo e iniciei uma nova trajetória profissional, após onze anos como jornalista. Cursei Direito, estagiei, virei advogada e me decepcionei com a Justiça. Casei, tive dois filhos, focando meu olhar na vida a dois e na maternidade e entrei em crise prestes a completar quarenta anos. Em meio às alegrias, crises e sofrimentos me mudaram, mas muitas vezes precisei brigar contra o costume.

Sem perceber, viramos escravos da rotina porque ela dá segurança. Usamos por décadas um corte de cabelo, nos imaginando com outro visual. Adotamos um cardápio trivial, podendo experimentar receitas. Nos prostramos em frente à TV, quando poderíamos ler ótimos livros. Checamos sem parar os celulares, deixando de nos conectar conosco. Nos acostumamos a não mudar porque o novo nos fascina tanto quanto nos inquieta, assusta.

Mesmo na rotina mudamos se soubermos tolerar e ceder em pequenas atitudes. Quando passamos a não querer discutir e, se isso ocorre, a aceitar que não temos razão ou a abrir mão dela para ter paz. Mudamos ao abandonar comportamentos incômodos, ao abaixar o tom de voz, ao sublimar sentimentos que nos faziam mal. Mudanças podem ser invisíveis em nosso caminhar, mas sempre nos transformam.

Enormes ondas às vezes nos derrubam numa sucessão de caixotes no mar revolto da vida, mas não morremos na praia não.  Levantamos e caímos tanto que perdemos a conta, até nos equilibrarmos e voltarmos a caminhar, cegos pela areia e o sal nos olhos e pernas trôpegas pelos inesperados tombos. Podemos então partir em frangalhos e nos esconder ou ficar, nos recuperarmos do susto e mergulharmos de novo nas ondas, sentindo espraiar-se em nós uma força desconhecida. E ela será a nossa silenciosa e grande mudança.

 


Texto: Nadja Bereicoa
Fotos: Pixabay

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