Celebrei o Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos há três dias, pela primeira vez. Eu, meu marido e nossos filhos agradecemos a Deus pelo que colhemos no ano que vai terminando, principalmente a saúde e a oportunidade de viver em outro país, nos enriquecendo culturalmente e nos fortalecendo como família. Agradecemos também pelas conquistas materiais, lembrando que são passageiras. Em tempos de maldade, ganância e miséria, que não temos mais como evitar que assistam no noticiário, ressaltamos às crianças o valor da bondade, da humildade, da generosidade e da gratidão. São elas que criam raízes e dão bons frutos, se as semearmos e cultivarmos.
Viver é um milagre e uma dádiva dia após dia. O constante agradecimento por tudo de bom que recebemos – em boa parte
gerado por nossas ações – é um ritual de amor à vida, a Deus, ao Universo e a
todas forças positivas que conspiram a nosso favor. Mais do que pedir, agradecer
gera uma energia positiva que nos revigora e nos envolve, multiplicada. Quanto
aos pedidos, inevitáveis, melhor que sejam por tranquilidade, amor,
coragem, perseverança e fé. É disso que precisamos para nos blindar contra o mal e
enfrentar os percalços rumo a nossos objetivos. O que vier agregado será
consequência bem-vinda.
Temos que agradecer quando amanhecemos junto com o dia e,
faça sol ou chuva, frio ou calor, um horizonte de possibilidades se descortina
para fazermos valer a nossa existência. Que saibamos dar graças pelas dificuldades e
sofrimentos que nos fizeram mais sábios e fortes. E que tenhamos gratidão por
transformarmos nossos sentimentos e a nós mesmos. Porque podemos brilhar como o
sol no verão e resplandecer como as flores na primavera, mas a vida é também desfolhar-se
e recolher-se em reflexão sobre o que passou e em preparação para o que nos
aguarda e a essência que queremos deixar.
Os pensamentos e sentimentos que nutrimos e disseminamos
voltam para nós. A Lei do Retorno, mais do que a justiça dos homens, alcança
indistintamente a todos. O que fazemos, falamos e pensamos
nesta vida e até a nossa inércia não se perdem ao vento: caminham pelo
Universo, como ondas vibratórias e espirituais. Por momentos, podem somente
atingir outras pessoas, construir ou destruir, causando o bem ou o mal, mas não
tardarão a voltar como bumerangues para nós. Nesta existência e em outras.
Quanto maior o alcance das nossas ações sobre os outros, mais potência
terão as energias positivas ou negativas que retornarão.
Esse fundamento religioso e científico de ação e reação é
ignorado pelos que roubam, matam, trapaceiam ou, de alguma forma,
prejudicam. Não raro percebemos como as forças cósmicas se encarregam de um ajuste de contas. É
assim que fortunas são arruinadas, famílias destruídas,
consciências atormentadas... Não se trata
de vingança. O sofrimento traz aprendizado, arrependimento ou, se a alma se
negar a evoluir, simplesmente mais sofrimento. São as leis da vida e do tempo
que melhor julgam, absolvem ou condenam, além de nossas próprias consciências. Estas falam por si quando as deitamos nos travesseiros.
Nossas escolhas têm consequências imutáveis, que podem levar
à felicidade ou ao infortúnio, à satisfação ou ao descontentamento. Muitas
pessoas se sentem como vítimas injustiçadas do mundo e mesmo de Deus, quando na
realidade são frutos – às vezes azedos ou amargos, outras deteriorados – do que cultivaram. Podem
ser também a terra seca ou revolvida onde nada sequer plantaram, apesar da
promessa de fertilidade. Ao verem sobre si os problemas desmoronando e a
estagnação imobilizando, praguejam. Esquecem-se de que suas ações ou omissões,
emoções ou gestos, pensamentos ou palavras causaram os efeitos.
Muitas pessoas fazem aos outros o que não
gostariam que fizessem a elas, desprezando um histórico princípio oriental, atribuído ao filósofo chinês Confúcio, também presente em passagens bíblicas e outros códigos religiosos e éticos. Estacionam em locais proibidos e em seguida
reclamam se alguém fura a fila a sua frente. Cometem pequenas fraudes para
obter vantagens, mas se indignam com a corrupção. São amantes de pessoas
casadas e se revoltam quando são traídas. A lista de incoerências é vasta.
Mas se quisermos ser tratados com respeito, consideração e amor, a receita é única:
agir do mesmo modo. Essa é a regra de
ouro para a reciprocidade nas relações.
Claro que existem os que sofrem
mesmo sem nunca ferirem outros. Talvez estejam na parcela dos que necessitam de
provas ou resgates para evoluir espiritualmente. Ou façam mal a si mesmos com baixa
autoestima e depressão. Não se amam, não confiam em si e nem se cuidam, sendo
vulneráveis às intempéries da alma e do corpo. Sempre, porém, devemos agradecer a Deus e lhe
rogar como na oração do teólogo Rinhold Niebuhr: “Conceda-me,
senhor, a serenidade para aceitar o que não posso mudar, a coragem para mudar o
que for possível e a sabedoria para saber discernir entre as duas. Vivendo um
dia de cada vez, apreciando um momento de cada vez, recebendo as dificuldades
como um caminho para a paz.(...)”. Amém!
Texto: Nadja Bereicoa
Fotos: Pixabay
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