quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Caleidoscópios vivos

Quem somos de fato?! Tímidos ou extrovertidos? Medrosos ou destemidos?  Racionais ou emotivos? Perdemos tempo nos definindo, sem entender que somos belos caleidoscópios, em inúmeras formas e cores.  Com os reflexos de nossa alma e de nossa história e as lapidações em nossa personalidade, podemos revelar ângulos antes impossíveis, entendendo que a vida é curta para tracejados lineares e em preto e branco.

Precisamos perceber quando metamorfoses se anunciam: novas características se revelam e outras se diluem ou se mesclam, em círculos que se abrem, se fecham ou são concêntricos.  É assim que surgem histórias nada críveis: o hippie da faculdade se transforma num rico empresário da informática, enquanto a executiva bem-sucedida resolve viver de agricultura orgânica. A garota popular da escola vira uma intelectual respeitada e a nerd tímida se torna atriz famosa. A explicação para o que nos tornarmos está, além de no mistério, na vontade.   

A vida também é lúdico caleidoscópio, com desenhos às vezes abstratos escondidos nos dias. A mais corriqueira paisagem revela o que passaria despercebido, mas um detido olhar vê.  De repente um rosto se forma entre as nuvens e duas nesgas de céu nele parecem nos fitar como olhos.  Ou um tapete de folhas de vários recortes e tons – verdes, amarelas e vermelhas – derramadas sobre a calçada, nos faz caminhar levitando. Há beleza e sinais em tudo...

Não devemos ficar presos ao que enxergamos à frente do nariz e a estereótipos sobre os outros e nós ou nos obrigarmos a ser sempre alegres, dispostos, sociáveis ou o que quer que seja. Nossos sentimentos são livres. Nossa aura pode estar monocromática e nosso olhar introspectivo em pleno dia de sol no verão, mas despontarmos coloridos e brilhantes numa noite fria e chuvosa de inverno.

Ninguém é totalmente bom e centrado. Embora as índoles de cada um predominem, temos ambivalências. Um rompante de raiva quando tudo dá errado, um desejo de dar o troco a quem nos prejudica ou outro lado sombrio tiram do eixo até quem tem essência boa. Somos movidos não somente pela razão, mas também por impulsos e instintos. São as reflexões sobre nossas multiplicidades que nos aprimoram. Nossos fragmentos de sentimentos, experiências e possibilidades nos tornam mosaicos. 

Somos caleidoscópios, em constante transformação. Só precisamos da lente certa no olhar para apreciarmos todas as nossas surpreendentes e belas formas. 


Texto: Nadja Bereicoa
Imagem: Pixabay
       

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