Quem somos de fato?! Tímidos ou
extrovertidos? Medrosos ou destemidos? Racionais
ou emotivos? Perdemos tempo nos definindo, sem entender que somos belos
caleidoscópios, em inúmeras formas e cores. Com os reflexos de nossa alma e de nossa
história e as lapidações em nossa personalidade, podemos revelar ângulos antes
impossíveis, entendendo que a vida é curta para tracejados lineares e em preto
e branco.
Precisamos perceber quando metamorfoses
se anunciam: novas características se revelam e outras se diluem ou se mesclam,
em círculos que se abrem, se fecham ou são concêntricos. É assim que surgem histórias nada críveis: o hippie
da faculdade se transforma num rico empresário da informática, enquanto a
executiva bem-sucedida resolve viver de agricultura orgânica. A garota popular
da escola vira uma intelectual respeitada e a nerd tímida se torna atriz
famosa. A explicação para o que nos tornarmos está, além de no mistério, na
vontade.
A vida também é lúdico
caleidoscópio, com desenhos às vezes abstratos escondidos nos dias. A mais corriqueira
paisagem revela o que passaria despercebido, mas um detido olhar vê. De repente um rosto se forma entre as nuvens e duas nesgas de céu nele parecem nos fitar como olhos. Ou um tapete de folhas de vários recortes e
tons – verdes, amarelas e vermelhas – derramadas sobre a calçada, nos faz caminhar
levitando. Há beleza e sinais em tudo...
Não devemos ficar presos ao que
enxergamos à frente do nariz e a estereótipos sobre os outros e nós ou nos
obrigarmos a ser sempre alegres, dispostos, sociáveis ou o que quer que seja. Nossos
sentimentos são livres. Nossa aura pode estar monocromática e nosso
olhar introspectivo em pleno dia de sol no verão, mas despontarmos coloridos e
brilhantes numa noite fria e chuvosa de inverno.
Ninguém é totalmente bom e centrado. Embora as índoles de cada um predominem, temos ambivalências. Um rompante de raiva quando tudo dá errado, um desejo de dar o troco a quem nos prejudica ou outro lado sombrio tiram do eixo até quem tem essência boa. Somos movidos não somente pela razão, mas também por impulsos e instintos. São as reflexões sobre nossas multiplicidades que nos aprimoram. Nossos fragmentos de sentimentos, experiências e possibilidades nos tornam mosaicos.
Somos caleidoscópios, em constante transformação. Só precisamos da lente certa no olhar para apreciarmos todas as nossas surpreendentes e belas formas.
Texto: Nadja Bereicoa
Imagem: Pixabay
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