sábado, 15 de outubro de 2016
Pílulas milagrosas de infância
quarta-feira, 28 de setembro de 2016
Somos personagens de nossos destinos
Vejo a vida como um misterioso roteiro que um autor constrói de acordo com seus personagens. Dependendo dos rumos de suas histórias, os papéis seguem ou não o script inicial. A morte do ator Domingos Montagner, tragado por um redemoinho no Rio São Francisco ao filmar uma cena de novela, me fez pensar no quanto a vida tem de imprevisível. Acredito que possuímos mais do que um destino e que somos personagens de uma trama maior, já quase toda pronta, mas com capítulos e desfechos em aberto.
Todos os dias pessoas não mais acordam ou viram a esquina sem saber que não voltarão a suas
casas e famílias, suas anônimas histórias. Um mergulho, um terremoto,
um assalto... Tudo pode acabar em segundos, a realidade parecer ficção e a
morte, abrupta, se assemelhar a carma. Nessas horas, não há tempo para
despedidas e declarações, mas certamente sobra para saudade e arrependimentos.
O que não foi feito e dito e poderia ter sido. O que foi dito e feito, mas
não deveria.
As fatalidades mostram como a vida é fugaz e não podemos perder tempo com besteiras. Viver
é um risco que temos que saber correr, entre o imponderável do acaso ou do destino e o que aprendemos com as consequências de nossas decisões e fatos alheios que nos afetam. Creio que os principais acontecimentos de nossas vidas ocorrem porque são necessários, assim como encontramos pessoas que de alguma forma precisamos. Creio que viver é parte de um processo de evolução espiritual.
Algumas vezes parecemos estar na hora e no
lugar certos ou na hora e no lugar errados. Mas se retrocedermos nossos passos
no relógio, vemos como de forma surpreendente os apressamos numa
direção ou os atrasamos até prosseguir noutra. Assim acontece com aquele
passageiro que desiste de um voo no avião que caí. Ou com um casal se conhecendo
quando tudo os levaria a desencontros. É como algo nos impulsionasse
para destinos diferentes daqueles que pareciam nos esperar.
Costumo pensar que nossos poucos (talvez
dois ou três) destinos são bifurcações de estradas, que escolhemos seguir. Com mais ou menos curvas e atalhos. Tempestades alagam a pista para nos fazer derrapar e nos atemorizar. Uma
pane elétrica nos detêm no acostamento atrasando a viagem. Tudo afetará a
maneira como iremos rumo a nossos destinos. A maior parte deles,
para o bem ou o mal, está traçada, mas alguns podem ser alterados por nosso
livre arbítrio.
Toda a sorte (ou azar) de problemas acontece
no percurso. É raro nos mantermos seguros, sabendo de cor o
mapa de nossos desejos e metas. Perdidos, podemos usar o GPS de experiências e
intuições ou sair a esmo, por pura adrenalina. Podemos até retroceder para retomar um
rumo que ficou para trás. O destino surgirá em um trecho da estrada, como uma das opções em aberto do nosso roteiro ou a do script original. Ainda que pareça sem sentido, estará cheio de significados.
domingo, 11 de setembro de 2016
Sofrer pode nos fazer evoluir
Sofrimento ao extremo vira desespero e este, sem tratamento, cega para o futuro
e suas imensas possibilidades. Nada parece ter solução, a vida perde o sentido
e a única saída parece ser a morte. Uma recente tragédia no Rio de Janeiro, com
uma família aparentemente feliz, serve de alerta para que a gente cuide da
nossa sanidade e entenda que sofrer pode nos fazer evoluir, se houver fé.
Em um apartamento de classe média alta, dois lindos meninos e sua mãe
foram assassinados por quem mais deveria defendê-las: seu pai e marido, que se
suicidou a seguir. Em uma carta, o homem narrou dificuldades profissionais e
financeiras que não lhe permitiriam manter o mesmo padrão de vida. Lamentou ter
“falhado” e explicou que sua decisão era para “evitar o sofrimento de todos”, como
se o seu ato de desequilíbrio fosse por amor e proteção.
Quem disse que aquelas pessoas inocentes, surpreendidas pela loucura alheia sem chances de reagir, queriam ser poupadas de sofrimento? Quem disse que vender um apartamento para comprar outro menor, trocar de escola, de carro ou as marcas preferidas no supermercado lhes faria sofrer? Mudar de vida, encarar perdas e deixar de repetir condutas viciadas pelo hábito podem, ao contrário, resgatar o amor próprio e unir uma família.
Seres humanos estão enlouquecendo, ao se esquivarem de seus problemas, se isolarem e mentirem para si mesmos ou aos que dizem amar, no afã de serem bem sucedidos e autossuficientes. Padrões sociais ditam o que é ser feliz - sinônimo de sucesso no amor, no trabalho, nas redes sociais... O número de sorrisos, promoções, curtidas é o que conta e foge-se dos problemas com válvulas de escape. No travesseiro, percebe-se: a felicidade é mera ilusão.
A lealdade e a honestidade (não apenas moral, mas com os próprios sentimentos)
estão em baixa. Pessoas convivem por anos e décadas, acreditando que partilham afeto,
sonhos e confiança. De repente, são apunhaladas covardemente... Como a esposa
dormindo ao lado quem decidiu matá-la ao invés de procurar saídas para sua
crise. Por que não buscar o diálogo que lhe aliviasse o coração e lhe fizesse
ver uma luz no fim do seu escuro túnel? Seu atormentado espírito preferiu um caminho sem
volta e mais sofrimento.
A vida é intercalada por crises – financeiras, vocacionais, existenciais,
matrimoniais - que detonam questionamentos com os quais podemos achar
respostas, fazer escolhas para viver bem o presente ou planejar um futuro
melhor. Não à toa o ideograma da palavra crise em japonês e chinês representa,
ao mesmo tempo, perigo e oportunidade. Toda a crise pode nos ensinar algo: fé,
coragem, equilíbrio e inovar.
Nas horas difíceis é que fortalecemos o nosso espírito. A gente amadurece na
adversidade, ao encarar a verdade e o sofrimento, por mais cruéis que sejam. Todos
carregamos dores, físicas ou psíquicas, em intensidades e formas diversas, às
vezes imperceptíveis para quem pensa nos conhecer a fundo. Uns se entregam, vão
ao fundo do poço, mas voltam à superfície quando estão sem ar. Muitos se
asfixiam...
Embora o sofrimento não seja comparável, já que é único para cada um que o vivencia, há que se pensar nas milhões de pessoas com sobrecargas de martírio corporal e espiritual mundo afora, como se carregassem pesadas cruzes nas costas. E as suportam, com força e certeza em tempos melhores. Para estes, resilientes por natureza ou aprendizado, quanto mais a vida testa, mais a fé pulsa no peito.
Sofrer provoca dor, incredulidade, revolta e catarse.
Mas se há fé para superar essas fases, um dia chega-se à aceitação, à
purificação e à transformação. Enfrentar o que chega para nós, compreendendo nossas
emoções, nos fortalece e nos transfere do papel de vítimas a agentes de uma
nova história - árdua, mas verdadeira.
domingo, 5 de junho de 2016
Expatriate hearts
sexta-feira, 6 de maio de 2016
Para minha mãe
sábado, 23 de abril de 2016
Semente de inspiração
Escrever é tratar as antigas escaras,
segunda-feira, 11 de abril de 2016
Entre o fechar e abrir das cortinas
segunda-feira, 28 de março de 2016
O simbolismo da Páscoa
Das celebrações religiosas, a Páscoa é, para mim, a de maior sentido de purificação e renovação. Considero-me uma cristã não dogmática, educada nas bases do catolicismo e atenta à doutrina espírita. Acredito em Jesus e seu calvário, mas penso que não devemos cultivar martírios, culpas e penitências. A ressurreição ou a vida de nossas almas após a morte são mistérios em que podemos crer ou não. Teologia à parte, o simbolismo da Páscoa inspira reflexão.
Páscoa em hebraico significa passagem, algo que fazemos cotidianamente mesmo sem perceber. Nossos renascimentos se dão a partir de rupturas, desfechos e ciclos que vivemos. Estamos sempre passando entre estados de espíritos, lugares, pessoas, momentos... Como partículas que se agregam ou se afastam, o tempo se condensa eterno ou evapora efêmero em nós, que decidimos o que dele iremos filtrar e guardar.
Esta Páscoa teve um sentido especial de vida para mim, já que na anterior
vivi o luto pela passagem de meu pai. Agora percebo meus filhos crescendo,
consolidando suas personalidades e se despedindo da infância. Os rastros dela ainda
se espalham pelos quartos, nos brinquedos e jogos preferidos aguardando o
desapego. As covinhas em suas mãos estão sumindo, seus frágeis corpos prenunciam
a puberdade, suas vozes oscilam timbres e dúvidas. Logo trilharão seus outros
caminhos, na passagem pela adolescência.
Comemoro suas mudanças psicológicas – os dentes ainda em troca, já sem
esperarem sob os travesseiros por fadas -, aproveitando seus momentos de
inocência e desejando que perdurem. Nesta Páscoa, me pediram explicações
religiosas e que eu escondesse ovinhos de plástico com chocolates pela casa. Aos
poucos eles seguem descobrindo a realidade - as doces mentiras e as amargas
verdades. Enquanto os oriento para que se protejam de perigos e saibam encarar
o medo (pois nisso reside a coragem), lhes ensino a mergulhar nos sonhos. Como
os dos livros que lemos juntos.
Crescer, literalmente, dói. Meus filhos têm reclamado, como eu fazia à
minha mãe, que sentem dores nas pernas. Como ela, lhes digo que é dor de
crescimento dos ossos, que se alongam. Ainda não lhes contei o que aprendi sozinha:
que a alma fica bem mais dolorida quando se é adulto. Estica, esgarça, com
tantos sentimentos. Quando eles me dizem em sua nostalgia infantil que
preferiam continuar crianças – tal Peter Pan e os meninos da Terra do Nunca -,
eu enalteço a passagem do tempo como um milagre e motivo de conquistas, mas torço
para que levem com eles o melhor da infância.
Por eles terem crescido vários centímetros, pudemos há dias vivenciar uma
inédita aventura radical: despencar das montanhas-russas da Disney. Com tremor
nas pernas e o coração disparando, acompanhá-los junto com o pai em quedas de
mais de trinta metros e loopings. Quando pensava em desistir, respirava fundo,
fechava os olhos, segurava nas mãos deles e ia... Minutos de adrenalina e
diversão, repetidos seis vezes, nos proporcionaram lembranças que ficarão para
sempre, como uma endorfina de felicidade. Fiquei orgulhosa de conseguir dominar
meu medo, passar por ele, e me permitir viver isso ao lado de meus filhos.
Continuaria falando sobre a infância e os momentos de alegria fugazes que
se tornam perenes. Mas a tristeza alterou o rumo destas linhas. Quando terminava
esta crônica ontem, ouvi a notícia sobre mais um ataque terrorista, dessa vez
no Paquistão, com 72 vítimas fatais e centenas de feridos, dentre elas dezenas
de crianças e adolescentes. Eram famílias que celebravam a Páscoa justamente num
parque de diversão e foram destruídas pelo sofrimento. Nesse cruel paradoxo,
tudo parece perder o sentido...
O
domingo sangrento aumentou a importância de ressignificar a Páscoa e a vida.
Diante do ódio e da intolerância, a importância do amor e do respeito às diferenças sobressai ainda mais. Podemos nos chocar e chorar, mas com fé e esperança para seguir.
Somos o resultado de nossas experiências e emoções e isto deve incluir não
desistir de acreditar, apesar das provações e de toda a dor. Senão,
morremos em vida, sem chance de renascer.
Texto: Nadja Bereicoa
Foto: Pixabay
quinta-feira, 24 de março de 2016
Plenitude
Sereno, romântico e generoso como um genuíno pisciano, ele acaba de iniciar uma nova década de vida. Minha homenagem é por isso e por compartilharmos a plenitude de um sentimento que se fortalece quanto mais amadurecemos.
terça-feira, 8 de março de 2016
Anjo travesso
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
Ao doce sabor dos ventos e desejos
Da mesma forma que essa mágica e livre flor, que nos deixemos levar ao doce sabor dos ventos e das energias positivas sopradas pelos bons desejos. E que saibamos florescer no tempo certo, até quando parecer improvável ou impossível.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
Caleidoscópios vivos
Quem somos de fato?! Tímidos ou
extrovertidos? Medrosos ou destemidos? Racionais
ou emotivos? Perdemos tempo nos definindo, sem entender que somos belos
caleidoscópios, em inúmeras formas e cores. Com os reflexos de nossa alma e de nossa
história e as lapidações em nossa personalidade, podemos revelar ângulos antes
impossíveis, entendendo que a vida é curta para tracejados lineares e em preto
e branco.
Precisamos perceber quando metamorfoses
se anunciam: novas características se revelam e outras se diluem ou se mesclam,
em círculos que se abrem, se fecham ou são concêntricos. É assim que surgem histórias nada críveis: o hippie
da faculdade se transforma num rico empresário da informática, enquanto a
executiva bem-sucedida resolve viver de agricultura orgânica. A garota popular
da escola vira uma intelectual respeitada e a nerd tímida se torna atriz
famosa. A explicação para o que nos tornarmos está, além de no mistério, na
vontade.
A vida também é lúdico
caleidoscópio, com desenhos às vezes abstratos escondidos nos dias. A mais corriqueira
paisagem revela o que passaria despercebido, mas um detido olhar vê. De repente um rosto se forma entre as nuvens e duas nesgas de céu nele parecem nos fitar como olhos. Ou um tapete de folhas de vários recortes e
tons – verdes, amarelas e vermelhas – derramadas sobre a calçada, nos faz caminhar
levitando. Há beleza e sinais em tudo...
Não devemos ficar presos ao que
enxergamos à frente do nariz e a estereótipos sobre os outros e nós ou nos
obrigarmos a ser sempre alegres, dispostos, sociáveis ou o que quer que seja. Nossos
sentimentos são livres. Nossa aura pode estar monocromática e nosso
olhar introspectivo em pleno dia de sol no verão, mas despontarmos coloridos e
brilhantes numa noite fria e chuvosa de inverno.
Ninguém é totalmente bom e centrado. Embora as índoles de cada um predominem, temos ambivalências. Um rompante de raiva quando tudo dá errado, um desejo de dar o troco a quem nos prejudica ou outro lado sombrio tiram do eixo até quem tem essência boa. Somos movidos não somente pela razão, mas também por impulsos e instintos. São as reflexões sobre nossas multiplicidades que nos aprimoram. Nossos fragmentos de sentimentos, experiências e possibilidades nos tornam mosaicos.
Somos caleidoscópios, em constante transformação. Só precisamos da lente certa no olhar para apreciarmos todas as nossas surpreendentes e belas formas.
Texto: Nadja Bereicoa
Imagem: Pixabay
terça-feira, 9 de fevereiro de 2016
Vestindo a fantasia
Alegria coletiva confraterniza e revigora. Melhor ainda é quando esse sentimento vem de dentro da gente, sem data marcada, nos fazendo rir e rodopiar sem motivo, até sozinhos. Simplesmente por entendermos que a vida tem sim altos e baixos, sucessos e fracassos, movimentos e quietudes, ensaios e sustos, mas pode ser um enredo (re)criado por nós. Com mais fantasia, beleza e apoteoses.