sexta-feira, 28 de abril de 2017

Quem quer ter razão perde tudo, até a razão


Algumas pessoas perdem tudo para provar que têm razão. Perdem tempo, amigos, saúde... Tudo pela necessidade de levar a sua opinião às derradeiras consequências do convencimento. Tudo para dar a última palavra numa discussão acalorada, com tréplicas e quádruplas.  Ao final, esbravejam, xingam e perdem a paz e a lucidez, junto com a razão. 

Poucos são os sábios que se calam quando acham que têm razão. Se veem o diálogo se encaminhando para a animosidade, trocam a vaidade pela sanidade. Para esses, escolher não ter razão publicamente é um exercício de humildade, é abrir mão de uma tola onipotência e se contentar com a consciência silenciosa e solitária da razão.

A razão barulhenta, que quer competir e estar certa, quase sempre afasta, magoa. A maioria das pessoas faz valer essa razão de forma irascível, como se suas palavras pudessem penetrar na alma alheia para catequizá-la. Tempo perdido em vão, porque razão é algo que todo mundo carrega e procura defender. A vida mostra quem a tem de fato.

Nas redes sociais, onde são comuns o chavão “Pronto. Falei!” e os textões de desabafos, muitos acham que falam o que pensam, quando falam sem pensar. Esquecem-se que “quem fala o que quer, ouve o que não quer”, como diz o ditado. Se disparam palavras como metralhadoras, deveriam estar preparadas para enfrentar munição dos que também defendem com veemência suas opiniões ou baixarem a guardar.  Mas o que se vê em geral é mais artilharia pesada.  

Não custa ser gentil com as palavras e previdente quanto aos efeitos danosos de certas discussões. Há aquelas que de antemão se mostram perigosas e inúteis, como sobre futebol, política e religião. É preciso tato para não ferir nem se deixar ser ferido, entendendo que sinceridade não significa grosseria. E que verborragia e agressividade não fazem vencedores. Ao contrário, geram perdedores e arrependimento.

Dialogue por ideias, argumente por respeito, converse para achar o fio da meada que você perdeu ou nunca encontrou – debata pelo que for -, mas sempre para acrescentar. Nunca para ganhar. Você ganha se souber sair de uma discussão na hora certa, mostrando sua visão calmamente. Aliás nem entre nela se não tiver calma e tempo suficientes para não alterar o seu equilíbrio emocional. 

Uma das vantagens de envelhecer é que a gente abre mão das certezas, diante das reviravoltas que testemunhamos na vida. Nossas prioridades mudam e a tranquilidade passa a figurar dentre as principais. Passamos a não ligar para opiniões alheias sobre nós e a não condenar sumariamente o que os outros pensam ou fazem, considerando somente o que venha somar. Passamos a relativizar fatos e sentimentos em prol do que importa de verdade. Ter razão deixa de ter razão.

De que adianta o coração palpitar, o corpo tremer e as palavras saírem em descompasso com os sentimentos? Isso só vale por amor, não por raiva e arrogância. Se você já sentiu os péssimos sintomas físicos e psicológicos de uma discussão, sabe que é melhor trabalhar a respiração (sim, inspirar e expirar profunda e pausadamente faz milagres...) e não carregar no tom ou nas palavras. Fale, mas ouça, pense e mude de opinião se quiser. A única razão que importa é a de ser feliz.


Texto: Nadja Bereicoa

Imagem: Pixabay


quinta-feira, 20 de abril de 2017

Estamos sempre de passagem


Se permitirmos, a Páscoa – que significa passagem em hebraico - acontece todos os dias em nós. Estamos sempre de passagem por lugares, pessoas,  sentimentos e momentos, que nos fazem bem ou mal. Cabe-nos escolher do medo à coragem, do egoísmo à solidariedade, do ódio ao amor, da tristeza à alegria...  A forma como atravessamos nossas etapas definirá onde chegaremos e se iremos nos aprisionar ou nos libertar.

      Você pode ser cristão ou não. Pode acreditar em ressurreição ou em reencarnação. Pode até não ter religião e achar que tudo acaba com a morte, o que não é o meu caso. Penso que estamos na Terra de passagem... Mas ainda que você considere esta vida única (e é, pois nenhuma outra será igual) deve, por isso mesmo, se deixar viver. Entregar-se à acomodação da infelicidade por achar que esta é sina, protege ou não dá trabalho, é morrer aos poucos. Não morra em vida. E se morrer, renasça, reinvente-se. Sua alma lhe agradecerá. 

     Todos os dias a gente decide quem vai se tornando e o que fazer pelo mundo, se vai subtrair ou somar. A gente decide como encarar os fatos indesejados que nos atropelam.  Decide, por exemplo, que o fracasso não é uma derrota, mas uma tentativa que não deu certo, rumo ao êxito. E então decide se continua com passo firme na mesma rota ou se vai trilhar um novo caminho, por mais difícil que seja caminhar.

     Cultivar a dor além do ponto, remexer e afundar feridas que já fecharam é recusar-se a viver.  Precisamos respeitar as cascas que secaram e seu tempo de caírem naturalmente. Se restarem marcas, quando as olharmos sem a opção por sofrer elas nos lembrarão do que aprendemos mas não queremos repetir. Aí renasceremos. Renascemos em um abraço caloroso, um pôr do sol indescritível, uma viagem dos sonhos... um novo jeito de ser. 

     A gente renasce quando envelhece crendo sempre que pode superar, mudar, ser melhor e aumentar a nossa capacidade de compreensão, bondade, resiliência. Se deixarmos, se não resistirmos, o tempo opera em nós o grande milagre da transformação e da evolução espiritual. São as nossas passagens, nossas Páscoas pessoais. 



Texto: Nadja Bereicoa
Imagem: Pixabay