quinta-feira, 25 de maio de 2017

Perdoar é terapia que cura e engrandece


Perdoar faz parte de um processo transformador, que cura e engrandece. Não à toa a palavra deriva do latim perdonare - de per, “para”, mais donare, “doar”. Doa-se o que se tem de melhor: a esperança de que a dor passe e ensine. Quem perdoa se cansa de sofrer e lamentar o que lhe fizeram, escolhendo apostar no presente ao invés de se martirizar com o passado.

Com o tempo, aprendi que perdoar é, mais do que amor ao próximo, uma prova de amor-próprio, para preservar a saúde, mental e física. Das decisões que podemos tomar, o perdão é das mais libertadoras. Ele deixa a alma leve, sem o peso de sentimentos ruins, que  alimentam a dor, ressentindo-a, estagnam a vida e adoecem. 

Infelizmente, o perdão é considerado ato de fraqueza, enquanto a vingança é coroada como força e justiça. Impera no mundo a Lei de Talião, do “Olho por olho, dente por dente”. Ofendidos preferem se igualar ao ofensores, retribuindo na mesma moeda a raiva, a deslealdade, a indiferença... 

Quando a gente rumina o que é ruim, se maltrata mais do que aos que nos magoam. Estes costumam subestimar seus atos ou se blindarem com convenientes amnésias.  Se têm noção deles, não sentem a dor latejar como quem atingiram. Mas em algum momento seus erros pesarão em suas consciências. Elas ou a vida se encarregarão de puni-los, na medida das consequências geradas. 

Ao longo da vida fui ferida de várias formas e precisei perdoar para preservar minha saúde e minha evolução espiritual. Certa vez recorri à chamada psicoterapia do perdão, técnica de abordagem sistêmica que considera que os atos danosos são imperdoáveis mas quem os comete pode e deve ser perdoado, para que as relações sejam reconstruídas em novos patamares e a vida siga sem sequelas paralisantes, danosas.

Todos ferimos alguém, mesmo que com palavras e atitudes cotidianas. Costumamos ser inflexíveis com quem mais convivemos, como se a intimidade e o amor fossem salvo-condutos... O processo de perdoar e ser perdoado pode nos fazer refletir sobre como temos agido e o que temos de mudar. Seu primeiro passo é o auto perdão, de nossos erros e fragilidades. 

O perdão pode levar meses, anos, décadas ou uma vida inteira. Mesmo com ele, pode ser inevitável um afastamento temporário ou definitivo.  Perdoar não traz o esquecimento, não nos faz voltar a confiar em alguém, mas nos deixa seguir com menos expectativas nos outros e mais autoconfiança. Perdoar é fazer um novo pacto com a vida, de paz interior, que nos permitirá lembrar sem dor das cicatrizes que ficaram. 

 

Texto: Nadja Bereicoa  

Imagem: Pixabay