Celebrei o Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos há três dias, pela primeira vez. Eu, meu marido e nossos filhos agradecemos a Deus pelo que colhemos no ano que vai terminando, principalmente a saúde e a oportunidade de viver em outro país, nos enriquecendo culturalmente e nos fortalecendo como família. Agradecemos também pelas conquistas materiais, lembrando que são passageiras. Em tempos de maldade, ganância e miséria, que não temos mais como evitar que assistam no noticiário, ressaltamos às crianças o valor da bondade, da humildade, da generosidade e da gratidão. São elas que criam raízes e dão bons frutos, se as semearmos e cultivarmos.
domingo, 29 de novembro de 2015
Agradecer é semear
Celebrei o Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos há três dias, pela primeira vez. Eu, meu marido e nossos filhos agradecemos a Deus pelo que colhemos no ano que vai terminando, principalmente a saúde e a oportunidade de viver em outro país, nos enriquecendo culturalmente e nos fortalecendo como família. Agradecemos também pelas conquistas materiais, lembrando que são passageiras. Em tempos de maldade, ganância e miséria, que não temos mais como evitar que assistam no noticiário, ressaltamos às crianças o valor da bondade, da humildade, da generosidade e da gratidão. São elas que criam raízes e dão bons frutos, se as semearmos e cultivarmos.
sábado, 21 de novembro de 2015
O planeta em perigo
Hoje minha prosa não é poética. Fala sobre mortes, dor e destruição provocadas pelo homem nas últimas semanas, mundo afora. O sangue jorrado em Paris após bárbaros ataques terroristas na sexta-feira 13 chocou sobremaneira a nós brasileiros, patinando em 62 milhões de metros cúbicos de lama que soterraram a cidade de Mariana, em Minas Gerais, com o rompimento de duas barragens de minérios. Tragédias que têm em comum o desprezo à vida, além de tristeza, indignação e apreensão pelo futuro do planeta, com sucessivos e irreversíveis danos.
Às margens do Rio Sena, o ódio e a intolerância assassinaram 129 pessoas e feriram 352 de forma covarde e distorcida em nome da religião islâmica. No curso do Rio Doce, a irresponsabilidade e a ganância provocaram 11 mortos, 12 desaparecidos, quase mil desabrigados e a maior tragédia ambiental brasileira. De um lado, o alastramento de atentados que podem atingir qualquer país e pôr fim à paz e às liberdades individuais. Do outro, distritos e rios concretados, vegetação e ecossistema aquático dizimados e água potável poluída por metais, causando desabastecimento em vários municípios. Nos dois casos, perdas de vidas insubstituíveis.
Desgraças como essas não podem ser comparadas para saber qual teve mais prejuízos ou dor. Como infelizmente alguns brasileiros fizeram pela internet, transtornados pelos terrorismos diários cometidos no país seja por bandidos armados ou por políticos corruptos. Cada tragédia deve ser lamentada, chorada, punida e servir de exemplo para evitar outras. A competição fomenta o desrespeito às diferenças, cegando-nos para a compreensão de seus contextos geográficos, históricos e culturais e diminuindo nossa capacidade de compaixão.
O vazamento em Minas era
iminente. Fruto da falta de manutenção estrutural nas barreiras, expôs o imprudente
– e, por isso, criminoso - sistema de exploração do ferro e outros minérios em
solo nacional e suas normas de segurança, por empresas que deveriam agir com extremo rigor
num setor estratégico e perigoso. Eficiente em fiscalizar a arrecadação
de brutais impostos sem contrapartida em serviços, o poder público brasileiro
foi, como sempre, omisso no dever de inspecionar uma atividade de risco. Assustam as notícias de que existem centenas de barreiras
no estado, além de empresas mineradoras financiarem campanhas políticas e de que uma legislação para o setor dorme no Congresso
Nacional há três anos. Aterroriza saber que mais diques podem se romper a
qualquer momento.
Pelas perdas materiais (casas, carros, empregos, agriculturas), décadas para minimizar os danos ecológicos e indenizações bilionárias devidas, uns consideram a tragédia de Mariana maior do que a de Paris. O desastre mineiro, que já chegou ao estado de Espírito Santo e desaguará no Oceano Atlântico, aumentará o avançado desequilíbrio ambiental da Terra e ficará como cicatriz entre as montanhas de Minas. Mas são as vidas perdidas que mais importam.
O atentado terrorista em Paris assassinou inocentes e feriu os princípios universais da Revolução Francesa, de liberdade, igualdade e fraternidade. Todas as nações saem machucadas quando fanáticos cruéis disparam devastadoras armas e bombas contra cidadãos indefesos, simplesmente por achar que eles simbolizam valores e hábitos contrários a sua alegada crença. Nos sentimos ameaçados e vulneráveis com atos bárbaros como esse, que mostram como os braços do terror se espalharam pelo mundo e afetam a segurança e a soberania nacionais. Qualquer país pode ser a próxima vítima.
Viajar deixou de ser prazer e virou risco. Minha irmã e meu cunhado foram testemunhas ilesas do clima de horror em Paris, vivendo momentos de tensão, tristeza e restrições turísticas. Não estavam no lugar e na hora errados, ao contrário das vítimas locais e das 224 que viajavam no avião russo derrubado por uma bomba em 31 de outubro ou das que estavam na África ontem. Horas antes de eu terminar esta crônica, novo atentado de outro grupo terrorista islamita fez 170 reféns e mais de 20 mortos num hotel na cidade de Bamako, em Mali. Tudo isso me faz temer o futuro, principalmente por ter filhos. Que mundo as crianças herdarão?
O ideal de menos fronteiras e mais união tornou-se sonho distante. Os próximos tempos serão de medo e desconfiança. Mas é possível crer na humanidade ao ver a compaixão e a solidariedade de inúmeras pessoas comovidas e solidárias às vítimas. Cidadãos de todo o Brasil se mobilizaram em campanhas de doações em dinheiro, alimentos, água, colchões e roupas, além dos que hospedaram desabrigados em suas casas em Mariana. Em Paris, taxistas levavam vítimas em seus carros sem cobrar e multidões se aglomeraram em vigílias e orações aos mortos.
O planeta está em perigo. Precisamos de medidas ecológicas e de paz coletivas urgentes. Impedir que armas fabricadas no Ocidente cheguem a terroristas e dialogar com muçulmanos para que tentem cessar o ódio de quem não os representa. Modificar o devastador sistema de exploração mineral brasileiro com a participação de ambientalistas, técnicos, líderes comunitários e legisladores. As soluções são difíceis e precisam envolver reflexão, serenidade, união e vontade. Antes que seja tarde.
Texto: Nadja Bereicoa
Fotos: Pixabay
sábado, 7 de novembro de 2015
Mudança, sinônimo de vida
Sair da zona de conforto e mudar, mesmo que para melhor, não é fácil. Implica em arriscar, reconstruir e perder, ainda que algo desgastado. Por acomodação ou medo, fugimos das mudanças que se anunciam em nossos ouvidos, como murmúrios do destino ou de Deus. Se ouvirmos a nossa intuição, às vezes um minuto pode ser um sim a conquistas ou recomeços. O sim para mudanças.
Mudança traz renovação e amadurecimento. É sinônimo de vida, mas é a ideia da finitude que nos impulsiona para ela. À medida que temos menos tempo, precisamos saber aproveitá-lo para sermos felizes, mudando e nos preparando para a maior transformação que virá, espiritual. Sempre podemos mudar. De aparência, comportamento, casa, país... Novos hábitos, experiências, opiniões e amores surgem com as mudanças.
Aos trinta anos, vivi meu primeiro longo ciclo de mudanças. Perdi minha irmã mais velha, morei sozinha, terminei um relacionamento, me apaixonei de novo e iniciei uma nova trajetória profissional, após onze anos como jornalista. Cursei Direito, estagiei, virei advogada e me decepcionei com a Justiça. Casei, tive dois filhos, focando meu olhar na vida a dois e na maternidade e entrei em crise prestes a completar quarenta anos. Em meio às alegrias, crises e sofrimentos me mudaram, mas muitas vezes precisei brigar contra o costume.
Sem perceber, viramos escravos da rotina porque ela dá segurança. Usamos por décadas um corte de cabelo, nos imaginando com outro visual. Adotamos um cardápio trivial, podendo experimentar receitas. Nos prostramos em frente à TV, quando poderíamos ler ótimos livros. Checamos sem parar os celulares, deixando de nos conectar conosco. Nos acostumamos a não mudar porque o novo nos fascina tanto quanto nos inquieta, assusta.
Mesmo na rotina mudamos se soubermos tolerar e ceder em pequenas atitudes. Quando passamos a não querer discutir e, se isso ocorre, a aceitar que não temos razão ou a abrir mão dela para ter paz. Mudamos ao abandonar comportamentos incômodos, ao abaixar o tom de voz, ao sublimar sentimentos que nos faziam mal. Mudanças podem ser invisíveis em nosso caminhar, mas sempre nos transformam.
Enormes ondas às vezes nos derrubam numa sucessão de caixotes no mar
revolto da vida, mas não morremos na praia não. Levantamos e caímos tanto que perdemos a
conta, até nos equilibrarmos e voltarmos a caminhar, cegos pela areia e o sal
nos olhos e pernas trôpegas pelos inesperados tombos. Podemos então partir em frangalhos e
nos esconder ou ficar, nos recuperarmos do susto e mergulharmos de novo nas ondas,
sentindo espraiar-se em nós uma força desconhecida. E ela será a nossa
silenciosa e grande mudança.