domingo, 11 de setembro de 2016

Sofrer pode nos fazer evoluir


Sofrimento ao extremo vira desespero e este, sem tratamento, cega para o futuro e suas imensas possibilidades. Nada parece ter solução, a vida perde o sentido e a única saída parece ser a morte. Uma recente tragédia no Rio de Janeiro, com uma família aparentemente feliz, serve de alerta para que a gente cuide da nossa sanidade e entenda que sofrer pode nos fazer evoluir, se houver fé.

Em um apartamento de classe média alta, dois lindos meninos e sua mãe foram assassinados por quem mais deveria defendê-las: seu pai e marido, que se suicidou a seguir. Em uma carta, o homem narrou dificuldades profissionais e financeiras que não lhe permitiriam manter o mesmo padrão de vida. Lamentou ter “falhado” e explicou que sua decisão era para “evitar o sofrimento de todos”, como se o seu ato de desequilíbrio fosse por amor e proteção.

Quem disse que aquelas pessoas inocentes, surpreendidas pela loucura alheia sem chances de reagir, queriam ser poupadas de sofrimento? Quem disse que vender um apartamento para comprar outro menor, trocar de escola, de carro ou as marcas preferidas no supermercado lhes faria sofrer? Mudar de vida, encarar perdas e deixar de repetir condutas viciadas pelo hábito podem, ao contrário, resgatar o amor próprio e unir uma família.

Seres humanos estão enlouquecendo, ao se esquivarem de seus problemas, se isolarem e mentirem para si mesmos ou aos que dizem amar, no afã de serem bem sucedidos e autossuficientes. Padrões sociais ditam o que é ser feliz - sinônimo de sucesso no amor, no trabalho, nas redes sociais... O número de sorrisos, promoções, curtidas é o que conta e foge-se dos problemas com válvulas de escape. No travesseiro, percebe-se: a felicidade é mera ilusão.

A lealdade e a honestidade (não apenas moral, mas com os próprios sentimentos) estão em baixa. Pessoas convivem por anos e décadas, acreditando que partilham afeto, sonhos e confiança. De repente, são apunhaladas covardemente... Como a esposa dormindo ao lado quem decidiu matá-la ao invés de procurar saídas para sua crise. Por que não buscar o diálogo que lhe aliviasse o coração e lhe fizesse ver uma luz no fim do seu escuro túnel? Seu atormentado espírito preferiu um caminho sem volta e mais sofrimento. 

A vida é intercalada por crises – financeiras, vocacionais, existenciais, matrimoniais - que detonam questionamentos com os quais podemos achar respostas, fazer escolhas para viver bem o presente ou planejar um futuro melhor. Não à toa o ideograma da palavra crise em japonês e chinês representa, ao mesmo tempo, perigo e oportunidade. Toda a crise pode nos ensinar algo: fé, coragem, equilíbrio e inovar.

Nas horas difíceis é que fortalecemos o nosso espírito. A gente amadurece na adversidade, ao encarar a verdade e o sofrimento, por mais cruéis que sejam. Todos carregamos dores, físicas ou psíquicas, em intensidades e formas diversas, às vezes imperceptíveis para quem pensa nos conhecer a fundo. Uns se entregam, vão ao fundo do poço, mas voltam à superfície quando estão sem ar. Muitos se asfixiam...

Embora o sofrimento não seja comparável, já que é único para cada um que o vivencia, há que se pensar nas milhões de pessoas com sobrecargas de martírio corporal e espiritual mundo afora, como se carregassem pesadas cruzes nas costas. E as suportam, com força e certeza em tempos melhores. Para estes, resilientes por natureza ou aprendizado, quanto mais a vida testa, mais a fé pulsa no peito. 

Sofrer provoca dor, incredulidade, revolta e catarse. Mas se há fé para superar essas fases, um dia chega-se à aceitação, à purificação e à transformação. Enfrentar o que chega para nós, compreendendo nossas emoções, nos fortalece e nos transfere do papel de vítimas a agentes de uma nova história - árdua, mas verdadeira.   

 


Texto: Nadja Bereicoa
Imagens: Pixabay

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