Algumas pessoas perdem tudo para provar que têm razão. Perdem tempo, amigos, saúde... Tudo pela necessidade de levar a sua opinião às derradeiras consequências do convencimento. Tudo para dar a última palavra numa discussão acalorada, com tréplicas e quádruplas. Ao final, esbravejam, xingam e perdem a paz e a lucidez, junto com a razão.
Poucos são os sábios que se calam quando acham que têm razão. Se veem o diálogo se encaminhando para a animosidade, trocam a vaidade pela sanidade. Para esses, escolher não ter razão publicamente é um exercício de humildade, é abrir mão de uma tola onipotência e se contentar com a consciência silenciosa e solitária da razão.
A razão
barulhenta, que quer competir e estar certa, quase sempre afasta, magoa. A
maioria das pessoas faz valer essa razão de forma irascível, como se suas
palavras pudessem penetrar na alma alheia para catequizá-la. Tempo perdido em
vão, porque razão é algo que todo mundo carrega e procura defender. A vida
mostra quem a tem de fato.
Nas
redes sociais, onde são comuns o chavão “Pronto. Falei!” e os textões de
desabafos, muitos acham que falam o que pensam, quando falam sem pensar.
Esquecem-se que “quem fala o que quer, ouve o que não quer”, como diz o
ditado. Se disparam palavras como metralhadoras, deveriam estar preparadas para enfrentar munição dos que também defendem com veemência suas opiniões ou baixarem a guardar. Mas o que se vê em geral é mais artilharia pesada.
Não
custa ser gentil com as palavras e previdente quanto aos efeitos danosos de
certas discussões. Há aquelas que de antemão se mostram perigosas e inúteis,
como sobre futebol, política e religião. É preciso tato para não ferir nem se
deixar ser ferido, entendendo que sinceridade não significa grosseria. E que
verborragia e agressividade não fazem vencedores. Ao contrário, geram
perdedores e arrependimento.
Dialogue por ideias, argumente por respeito, converse para achar o fio da meada
que você perdeu ou nunca encontrou – debata pelo que for -, mas sempre para
acrescentar. Nunca para ganhar. Você ganha se souber sair de uma discussão na
hora certa, mostrando sua visão calmamente. Aliás nem entre nela se não
tiver calma e tempo suficientes para não alterar o seu equilíbrio
emocional.
Uma das vantagens de envelhecer é que a gente abre mão das certezas, diante das reviravoltas que testemunhamos na vida. Nossas prioridades mudam e a tranquilidade passa a figurar dentre as principais. Passamos a não ligar para opiniões alheias sobre nós e a não condenar sumariamente o que os outros pensam ou fazem, considerando somente o que venha somar. Passamos a relativizar fatos e sentimentos em prol do que importa de verdade. Ter razão deixa de ter razão.
De que adianta o coração palpitar, o corpo tremer e as palavras saírem em descompasso com os sentimentos? Isso só vale por amor, não por raiva e arrogância. Se você já sentiu os péssimos sintomas físicos e psicológicos de uma discussão, sabe que é melhor trabalhar a respiração (sim, inspirar e expirar profunda e pausadamente faz milagres...) e não carregar no tom ou nas palavras. Fale, mas ouça, pense e mude de opinião se quiser. A única razão que importa é a de ser feliz.
Texto: Nadja Bereicoa
Imagem: Pixabay
Adorei, VC escreve muito bem!
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