sexta-feira, 2 de junho de 2017

Indiferença, silêncio que diz muito


A indiferença é silêncio que diz muito e cala fundo em quem a percebe. Ela é um ato de desamor talvez pior do que o ódio, porque fere com frieza e distância. Sob a casca do descaso, o indiferente não se motiva, não sente ou finge que não sente. A grande questão é o que está por trás do que parece ausência de emoção, porém é a mistura de vários sentimentos disfarçados que podem vir de quem a gente mais estima.

Em épocas de emoções voláteis e volúveis, que surgem e somem com toques na tela do celular, pessoas automatizam e banalizam reações e relações. Vivem extremadas com aquilo que não lhes diz respeito e indiferentes com quem e o que deveriam lhes importar.  Vivem entre a adrenalina e a anestesia, externando instintivamente seu lado sombrio, em atitudes que machucam, e racionalmente represando emoções luminosas, que fariam bem a outras pessoas.

Por falta de vontade, estratégia psicológica ou depressão, muitos não conseguem externar um elogio ou uma admiração, ostentando o ar blasé do desinteresse ou da apatia. Esse é o reflexo de uma parcela egocêntrica da sociedade, que privilegia o instantâneo e estimula a competição. A reciprocidade é a sua regra de ouro, em que um input já espera pelo feedback. Se isso não ocorre, a indiferença vira birra de criança, retaliação.

A indiferença pode sinalizar desprezo, fuga ou defesa ou ser apenas uma decisão de neutralidade, para não se comprometer, não se aborrecer. A diferença da indiferença está em sua intenção e no seu alvo. Quando o indiferente é alguém de nosso círculo de afetos, que ignora as nossas conquistas e até nossas dificuldades, pode ser um sinal de emoções conflitantes: ressentimento, ciúme, raiva... ainda que haja bem-querer.

Todo mundo quer ser notado pelo que faz de melhor, mas vale analisar se o silêncio do outro é pontual, se ele está com problemas, sem tempo ou se realmente não tem consideração, talvez por inveja. É melhor pensar bem antes de ser indiferente só para dar o troco, pois esse jogo é capaz de nos dessensibilizar. Mais vale acreditarmos em nosso potencial, sem nos abalar com a indiferença alheia. Até porque muitas vezes o que impera é o ditado "Quem desdenha, quer comprar".   

    
Texto: Nadja Bereicoa
Imagem: Pixabay






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