A indiferença é
silêncio que diz muito e cala fundo em quem a percebe. Ela é um ato de desamor talvez
pior do que o ódio, porque fere com frieza e distância. Sob a casca do descaso,
o indiferente não se motiva, não sente ou finge que não sente. A grande questão
é o que está por trás do que parece ausência de emoção, porém é a mistura de
vários sentimentos disfarçados que podem vir de quem a gente mais estima.
Em épocas de emoções
voláteis e volúveis, que surgem e somem com toques na tela do celular, pessoas
automatizam e banalizam reações e relações. Vivem extremadas com aquilo que não
lhes diz respeito e indiferentes com quem e o que deveriam lhes importar.
Vivem entre a adrenalina e a anestesia, externando instintivamente seu lado
sombrio, em atitudes que machucam, e racionalmente represando emoções luminosas, que fariam bem a outras pessoas.
Por falta de vontade,
estratégia psicológica ou depressão, muitos não conseguem externar um elogio ou
uma admiração, ostentando o ar blasé do desinteresse ou da apatia. Esse é o reflexo
de uma parcela egocêntrica da sociedade, que privilegia o instantâneo e estimula a
competição. A reciprocidade é a sua regra de ouro, em que um input já
espera pelo feedback. Se isso não ocorre, a indiferença vira birra de
criança, retaliação.
A indiferença pode sinalizar
desprezo, fuga ou defesa ou ser apenas uma decisão de neutralidade, para não se
comprometer, não se aborrecer. A diferença da indiferença está em sua intenção e no seu alvo. Quando o indiferente é alguém de nosso círculo de afetos, que ignora as nossas conquistas e até nossas dificuldades, pode ser um sinal de emoções
conflitantes: ressentimento, ciúme, raiva... ainda que haja bem-querer.
Todo mundo quer ser notado pelo que faz de melhor, mas vale analisar se o silêncio do outro é pontual, se ele está com problemas, sem tempo ou se realmente não tem consideração, talvez por inveja. É melhor pensar bem antes de ser indiferente só para dar o troco, pois esse jogo é capaz de nos dessensibilizar. Mais vale acreditarmos em nosso potencial, sem nos abalar com a indiferença alheia. Até porque muitas vezes o que impera é o ditado "Quem desdenha, quer comprar".
Imagem: Pixabay
Nenhum comentário:
Postar um comentário