Sabotagem não é apenas estratégia de
inimigo para prejudicar quem detesta. Longe de planos maquiavélicos, ela pode
partir de nós mesmos e ir minando nossa felicidade com atitudes simples e
repetitivas, de forma inconsciente ou não. Começa se apoderando de
pequenos momentos - prazeres ou responsabilidades - até invadir a vida
inteira.
Prorrogarmos etapas e relacionamentos vencidos ou a
solução de problemas e incômodos, postergando o que podemos fazer hoje para o
dia seguinte e depois para o outro e outro. Vivemos, procurando sempre justificativas,
uma sucessão de pendências e adiamentos. Adiamos, principalmente, o
enfrentamento do trabalho que dá ser feliz.
Nos sabotamos ao nos recusarmos a enxergar o que está diante de nosso nariz,
sobre a vida, os outros e nós. Custamos a entender que a felicidade, tirando momentos
afortunados, quase sempre não vem de graça. Vem de querer. E a gente
sabota o nosso querer quando não enfrenta tudo o que é preciso para ter ou
fazer o que deseja, seja para não desagradar alguém ou por preguiça ou medo.
Ah, o medo... Que concorrência desleal! Ele é
nosso maior sabotador, simbolizando um complexo de inferioridade. Enquanto o
cultivarmos diante do que está por vir, ele esmagará a nossa força interior,
por maior que ela seja. Precisamos parar de ter medo da felicidade, de que algo
ruim aconteça, de saber a verdade, do que os outros vão pensar...
Até respeitarmos
o que nos faz bem, nos importamos em demasia com os outros e nos violentamos.
Permitimos que pessoas nocivas invadam o nosso espaço ou suguem nossa energia
com seus problemas, conselhos ou comentários negativos. Dizemos sim querendo
dizer não e vice-versa. Fazemos o que não queremos e deixamos de fazer o
que queremos, engolindo a frustração.
Sabotamos nossos sonhos deixando-os no plano da
irrealidade. Não nos atrevemos a colocá-los em prática para evitar
decepções, especulando o pior. Assim nunca poderão dizer que deram errado... Ou
então iniciamos novas empreitadas, mas desistimos nas primeiras dificuldades.
Como se não fôssemos capazes de alcançar o sucesso ou fortes o suficiente para
resistir ao fracasso.
Muitos fogem de seus amores. Outros ignoram as suas
vocações. Inúmeros se atrasam para compromissos. A autossabotagem acontece
de várias formas, mas sua origem tem sempre a ver com baixa autoestima e falta
de autoconfiança e amor-próprio. Por isso, nos acostumamos a inventar
pretextos, arrumar complicações, anestesiar dores e mergulhar em ilusões.
Somos os responsáveis por sair das armadilhas que criamos, por abrir correntes a que nos prendemos. Um bom começo é enfrentar nossos medos e deixar de cultivar pensamentos e comportamentos tóxicos. Quando eles vierem, temos logo que substituí-los pelos que nos motivem. Ainda que isso assuste e canse no início, ainda que haja recaídas, a confiança e a coragem nos fortalecerão até conseguirmos. Quanto mais deixarmos de nos proteger da infelicidade, mais nos aproximaremos da felicidade.
Imagem: Pixabay
Texto: Nadja Bereicoa