Perdoar
faz parte de um processo transformador, que cura e engrandece. Não à toa a
palavra deriva do latim perdonare - de per,
“para”, mais donare, “doar”. Doa-se o que se tem de melhor: a
esperança de que a dor passe e ensine. Quem perdoa se cansa de
sofrer e lamentar o que lhe fizeram, escolhendo apostar no presente ao invés de
se martirizar com o passado.
Com o tempo, aprendi que perdoar é, mais do que amor ao próximo, uma prova de amor-próprio, para preservar a saúde, mental e física. Das decisões que podemos tomar, o perdão é das mais libertadoras. Ele deixa a alma leve, sem o peso de sentimentos ruins, que alimentam a dor, ressentindo-a, estagnam a vida e adoecem.
Infelizmente, o perdão é considerado ato de fraqueza, enquanto a
vingança é coroada como força e justiça. Impera no mundo a Lei de Talião, do
“Olho por olho, dente por dente”. Ofendidos preferem se igualar ao ofensores,
retribuindo na mesma moeda a raiva, a deslealdade, a indiferença...
Quando a gente rumina o que é ruim, se maltrata mais do que aos que nos
magoam. Estes costumam subestimar seus atos ou se blindarem com convenientes amnésias. Se têm noção deles, não sentem a dor latejar como quem
atingiram. Mas em algum momento seus erros pesarão em suas consciências.
Elas ou a vida se encarregarão de puni-los, na medida das consequências geradas.
Ao longo da vida fui ferida de várias formas e precisei perdoar
para preservar minha saúde e minha evolução espiritual. Certa vez recorri à chamada psicoterapia do perdão, técnica de
abordagem sistêmica que considera que os atos danosos são imperdoáveis mas quem
os comete pode e deve ser perdoado, para que as relações sejam reconstruídas em novos patamares e a vida siga sem sequelas paralisantes, danosas.
Todos ferimos alguém, mesmo que com palavras e atitudes cotidianas. Costumamos ser inflexíveis com quem mais convivemos, como se a intimidade e o amor fossem salvo-condutos... O processo de perdoar e ser perdoado pode nos fazer refletir sobre como temos agido e o que temos de mudar. Seu primeiro passo é o auto perdão, de nossos erros e fragilidades.
O perdão pode levar meses, anos, décadas ou uma vida inteira. Mesmo com ele, pode ser inevitável um afastamento temporário ou definitivo. Perdoar não traz o esquecimento, não nos faz voltar a confiar em alguém, mas nos deixa seguir com menos expectativas nos outros e mais autoconfiança. Perdoar é fazer um novo pacto com a vida, de paz interior, que nos permitirá lembrar sem dor das cicatrizes que ficaram.
Texto:
Nadja Bereicoa
Imagem:
Pixabay