sexta-feira, 17 de março de 2017

Mulheres, do jeito que quiserem

     

Passei o Dia Internacional da Mulher com TPM, uma forte enxaqueca, uma cólica de causar contorcionismo e o humor entre depressivo e irritado. Após meus filhos saíram pra escola, tomei um remédio e dormi a manhã inteira, ignorando a data. Quando acordei, uma tempestade de parabéns, rosas, galãs embrulhados para presente e palavras melosas ou de luta enalteciam as mulheres no celular e na TV. Achei tudo fora do tom e não me identifiquei com nada.

De um lado, o discurso feminista de empoderamento e contra o chavão ´bela, recatada e do lar` nos retratando como mulheres-maravilhas infalíveis, o sexo forte. Do outro, um discurso presidencial machista exaltando o papel doméstico feminino, de cuidar dos filhos e do marido e de gerir o orçamento da casa a partir de supermercados. No meio, propagandas vendendo produtos cosméticos femininos com descontos imperdíveis.

Muito mais do que de celebração, a data é política e de reflexão, ainda necessária em tempos de violência e desrespeitos contra os corpos e direitos das mulheres no mundo. Mas todo 8 de março é a mesma coisa: falação, comércio, espetáculo e pouca ação. De todos os lados, falta organização para mudar o necessário, seja a falta de isonomia salarial no desempenho das mesmas funções, seja a difusão de estereótipos de gênero, seja a eleição de mulheres que verdadeiramente nos representem.

Certo que há força bruta, fanatismo religioso e poder econômico jogando pesado contra nós, além de alienação e cinismo dos que fingem não ver as desigualdades ou teimam em afirmar que homens e mulheres são iguais.  Somos absolutamente diferentes, nos aspectos psicológicos e biológicos, e devemos sim ter tratamentos desiguais. Como pregava Rui Barbosa, igualdade é tratar desigualmente os desiguais.

É preciso ajustar o foco do que importa. Do contrário, teremos sempre um abismo entre o discurso e a prática. De nada adianta o patrulhamento agressivo e sarcástico de feministas criticando indistintamente os homens ou as mulheres que não se enquadram nos padrões politicamente corretos. Nos classificarem como independentes ou submissas, fortes ou frágeis, espertas ou bobas, rodadas ou recatadas, do bar ou do lar é limitar nossa liberdade.

Nossas ambições e humores mudam, de acordo com os anos e os hormônios. É difícil sentir os efeitos pré-menstruais ou os da menopausa, mas também não é fácil para os homens conviverem com nossa bipolaridade nesses dias. Regra geral, não somos melhores nem piores do que eles, que também têm alterações hormonais e emocionais que não se permitem viver ou discutir.

Os homens estão aprendendo agir de modo diverso do que todos, inclusive suas mães, lhes ensinaram. Eles devem ser incentivados a invadir o universo feminino, ao invés de ouvirem que não têm jeito para cuidar de um bebê, fazer compras de supermercado, opinar na decoração da casa, cozinhar... Novos direitos masculinos, como licença-paternidade ampliada e guarda compartilhada, também podem significar ganhos para mulheres e um caminho de diálogo.

Bem, essa é apenas a minha opinião. Mulheres são diferentes e divergentes na casca e na essência. Somos imperfeitas, com virtudes e defeitos. Nada de heroínas, deusas ou santas. Podemos ser o que quisermos: extrovertidas, sérias, casadas, solteiras, profissionais, donas-de-casa, com ou sem filhos... Não nos encaixarem em rótulos ou nos compararem já é um presente. Para todos os dias.



Texto: Nadja Bereicoa
Imagem: Pixabay





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