Passei o Dia Internacional da Mulher com TPM, uma forte enxaqueca, uma cólica de causar
contorcionismo e o humor entre depressivo e irritado. Após meus filhos saíram
pra escola, tomei um remédio e dormi a manhã inteira, ignorando a data. Quando
acordei, uma tempestade de parabéns, rosas, galãs embrulhados para presente e
palavras melosas ou de luta enalteciam as mulheres no celular e na TV. Achei tudo
fora do tom e não me identifiquei com nada.
De um lado, o
discurso feminista de empoderamento e contra o chavão ´bela, recatada e do lar` nos
retratando como mulheres-maravilhas infalíveis, o sexo forte. Do outro, um discurso
presidencial machista exaltando o papel doméstico feminino, de cuidar dos
filhos e do marido e de gerir o orçamento da casa a partir de supermercados. No
meio, propagandas vendendo produtos cosméticos femininos com descontos
imperdíveis.
Muito mais do que de
celebração, a data é política e de reflexão, ainda necessária em tempos de
violência e desrespeitos contra os corpos e direitos das mulheres no mundo. Mas
todo 8 de março é a mesma coisa: falação, comércio, espetáculo e pouca ação. De
todos os lados, falta organização para mudar o necessário, seja a falta
de isonomia salarial no desempenho das mesmas funções, seja a difusão de
estereótipos de gênero, seja a eleição de mulheres que verdadeiramente nos
representem.
Certo que há força
bruta, fanatismo religioso e poder econômico jogando pesado contra nós, além de
alienação e cinismo dos que fingem não ver as desigualdades ou teimam em
afirmar que homens e mulheres são iguais. Somos absolutamente diferentes,
nos aspectos psicológicos e biológicos, e devemos sim ter tratamentos desiguais.
Como pregava Rui Barbosa, igualdade é tratar desigualmente os desiguais.
É preciso ajustar o
foco do que importa. Do contrário, teremos sempre um abismo entre o discurso e
a prática. De nada adianta o patrulhamento agressivo e sarcástico de feministas
criticando indistintamente os homens ou as mulheres que não se enquadram nos
padrões politicamente corretos. Nos classificarem como independentes ou
submissas, fortes ou frágeis, espertas ou bobas, rodadas ou recatadas, do bar
ou do lar é limitar nossa liberdade.
Nossas ambições e
humores mudam, de acordo com os anos e os hormônios. É difícil sentir os
efeitos pré-menstruais ou os da menopausa, mas também não é fácil para os
homens conviverem com nossa bipolaridade nesses dias. Regra geral, não somos
melhores nem piores do que eles, que também têm alterações hormonais e
emocionais que não se permitem viver ou discutir.
Os homens estão
aprendendo agir de modo diverso do que todos, inclusive suas mães, lhes ensinaram.
Eles devem ser incentivados a invadir o universo feminino, ao invés de ouvirem
que não têm jeito para cuidar de um bebê, fazer compras de supermercado, opinar
na decoração da casa, cozinhar... Novos direitos masculinos, como
licença-paternidade ampliada e guarda compartilhada, também podem significar
ganhos para mulheres e um caminho de diálogo.
Bem, essa é apenas a
minha opinião. Mulheres são diferentes e divergentes na casca e na essência.
Somos imperfeitas, com virtudes e defeitos. Nada de heroínas, deusas ou santas.
Podemos ser o que quisermos: extrovertidas, sérias, casadas, solteiras,
profissionais, donas-de-casa, com ou sem filhos... Não nos encaixarem em
rótulos ou nos compararem já é um presente. Para todos os dias.
Texto: Nadja Bereicoa
Imagem: Pixabay
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